terça-feira, 30 de agosto de 2005

Corporação: você ainda vai fazer parte de uma

Para ser médico é necessário estudar medicina, para ser engenheiro é necessário estudar engenharia, para ser motorista é necessário freqüentar auto-escola. Tudo faz sentido, não? Não.
A princípio para exercer qualquer função seria necessário apenas saber conhecer o ofício, mas as corporações conseguiram encutir no inconsciente de nossa sociedade que para toda a função existe um diploma equivalente que permite ao portador que a exerça. Seria uma forma de proteger a sociedade de má-prática, só que acaba sendo uma forma de reserva de mercado; em suma, um meio de beneficiar economicamente uns escolhidos.
Tomemos, por exemplo, a função de motorista; para não entrar no jardim de corporações poderosas, porém para as quais o raciocínio é o mesmo.
Exige-se de alguém eu queira dirigir veículos automotores terrestres, quando em via pública, a posse de uma licença de motorista. Para consegui-la é necessário um número x de aulas, teóricas e práticas, em instituições especializadas de ensino e a realização de provas em um órgão público específico.
Qual é a justificativa? Proteger a sociedade de maus motoristas, assegurando que só se habilitem ao exercício da função os que passarem por um rigoroso processo de treinamento e de testes de capacidade.
Além do ridículo de ser inabilitado quem não está de posse de sua CNH (carteira nacional de habilitação) – é o mesmo que dizer um médico que não está carregando sua carteira do CRM (Conselho Regional de Medicina) não pode salvar vidas, isto é uma justificativa claramente falsa.
Os dados da violência no trânsito brasileiro demonstram que esta forma de capacitação não está funcionando. Seria muito mais eficiente se a educação para o trânsito fosse ensinada desde a primeira infância durante a educação obrigatória a que todas as crianças do país precisam se submeter. Se fosse feita de maneira correta, esta educação precoce e continuada formaria um exército de pessoas mais capacitadas do que as que hoje estão aos volantes e guidões Brasil afora.
Por não confiar no discernimento da população a legislação cria uma indústria da “instrução” de motoristas. Por não confiar na educação que dá ao povo a sociedade exige provas de habilitação.
E é assim em todas as funções tradicionais que já conseguiram atiçar a sede das corporações.
A existência desta infinidade de corporações e de especificações de profissões é apenas mais uma das engrenagens da máquina de atraso brasileira; uma das mais importantes, aliás. Basta verificar que o auge deste tipo de sociedade de escolhidos foi na antiga idade média, pela qual nossa sociedade nem passou diretamente, se bem que, principalmente, manufatureiras, ao contrário da nossa que é focada nas profissões de prestação de serviços.
Uma justiça crível e rápida poderia dar cabo deste atraso; responsabilizando aqueles que cometessem má-prática profissional ou pessoal, atentando contra a vida ou patrimonial – de todo tipo, do financeiro ao moral – de outrem.
Como esta justiça não existe, as corporações vicejam.

terça-feira, 23 de agosto de 2005

Alhos, bugalhos e outros semelhantes

Virou moda ficar comparando Brasil com China, Coréia e Irlanda. Será que isso faz sentido?
É óbvio que não, são países com nada em comum, tanto na cultura, como na geografia, quanto em qualquer outra coisa que se tentar comparar.
A China é um país que está passando por uma “revolução” na economia, está passando de uma economia marcadamente agrária para uma economia industrial sustentando-se nos pilares de financiamento externo e tecnologia estrangeira. É surpresa que seja o país que mais cresce no mundo?
No início do século passado houve um país que fez exatamente isso e durante as sete primeiras décadas daquele século foi a economia que mais cresceu no mundo. Esse país era o Brasil. Como podemos sentir na própria carne, este receituário não nos transformou em uma potência, pois claramente tem seus limitantes. Talvez a China tenha descoberto uma maneira de romper estas limitações, eu francamente duvido.
A única maneira de perpetuar-se como uma potência econômica madura é incluindo a maioria da população no mercado de consumo, e isso a China não parece estar fazendo. Depender de compradores externos é sempre uma receita para o litígio, como já vem ocorrendo, ou para a catástrofe, já que estes compradores sempre podem sumir de uma hora para a outra.
Um mercado interno forte é um seguro quanto a esta possível perda de clientes estrangeiros e um grande meio de se alcançar escala para tentar o mercado externo.
Este é o desafio da China, transformar seu imenso mercado interno potencial em um mercado real, mesmo porque o resto do mundo não conseguirá arcar com uma China produtora nos moldes da atual. Imagine 1 bilhão e meio de pessoas produzindo artigos industriais baratos, quem vai comprar esta avalanche de bugingangas?
A Coréia do Sul é um exemplo parecido com o da China, só que em uma escala muito menor, o que permitiu que ela se desenvolvesse mais. Agora já produz tecnologia própria e pode concorrer de igual para igual com os grandões.
E a Irlanda, é um país minúsculo quando comparado com os outros três (menos de 5 milhões de habitantes), com um mercado interno imenso (a própria União Européia) e investimentos externos diretos e subsídios gigantescos. Seria necessária muita incompetência para que o país não crescesse a taxas gigantescas e se não equiparasse aos seus demais parceiros. Eles não tiveram, talvez a tivéssemos, mas quem sabe?
Cada país é um país, podemos ficar procurando similaridades e tentar adaptar casos de sucessos de outros países onde estas similaridades se encontram, mas tentar pegar índices de crescimento e falar; vamos seguir o que aqueles caras fazem, simples assim, não funciona. E não tem como funcionar algum dia.

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Na dúvida, pró ataque

“Falar em impeachment é flertar com o desastre”, escreveu Celso Ming em sua coluna de ontem no Estadão. Pode até ser, mas e não falar?
Não falar é casar com ele. É aceitar que as ações do governo Lula estão em concordância com o esperado. É o pior dos mundos.
Ming não é o único que não quer nem ouvir falar disso, tanto na mídia quanto nos partidos políticos.
Dizer que Lula não pode sofrer o impeachment (a partir deste momento procurarei me referir como impedimento), principalmente, devido a má qualidade de seus suplentes é simplesmente ridículo. O entendimento de que o impedimento por não ser conveniente para certos caciques (notadamente do PSDB) é mais do que ridículo.
Não estou defendendo o impedimento - nem ao menos sei se há elementos para isso – mas, se queremos conviver com a democracia e a legalidade, temos que aprender a respeitar a lei como está escrita.
Se na legislação vigente está escrito X, cumpra-se. Se achamos que X está errado, procuremos mudá-lo, só que depois de cumpri-lo enquanto está vigente.
Leis são feitas para regular as relações sociais e o poder executivo para, convenhamos, executá-las. Um governo que nem ao menos as cumpre é um estorvo. Se ser este estorvo não é uma “questão” de responsabilidade, não sei o que é; se é crime, não sei.
Pois então, não vamos tentar por fogo no circo. Daí a virar o rosto para não ver as chamas é outra muito diferente. Quero crer que não o faremos, mas aqui; quem vai saber?
Lulisticamente falando, vamos nos utilizar de uma figura de linguagem.
No futebol, na dúvida, deve se favorecer ao ataque e mandar a jogada seguir. No contencioso legal, na dúvida, pró réu.
Lula espera que na dúvida, pró ele. Só que política não é futebol e muito menos justiça. Se houver dúvida, ele já está perdendo, se certeza, é impedimento.

domingo, 14 de agosto de 2005

Faz todo o sentido

Moramos em um país esquizofrênico, não há dúvida, mas o grau parece estar se acentuando.
Sempre que dou uma olhada nos periódicos, seja em qual meio seja, me espanto com as discrepâncias entre a realidade e o discurso.
Não quero nem citar o nosso autista do planalto – é bom que ele fique com as barbas de molho - mas quero me ater a coisas mais simples, prosaicas; como a economia, por exemplo.
Mais precisamente o nosso súbito impulso exportador. Se tudo está errado, como dizem analistas e jornalistas especializados que resolvem opinar sobre o assunto, como podem mês após mês nossas exportações quebrarem recordes, assim como nosso saldo comercial.
Eu, como não sou nem analista nem especializado – e, portanto, não tenho um nome a zelar – posso dar meus pitacos.
Vamos por partes.
Primeiro, o câmbio. Será que ele está realmente tão desvalorizado assim? Pra quem se lembra dos 4 reais que um dólar comprava três anos atrás, estes 2,3 são realmente muito caros, só que não contam toda a história.
Dizem os especialistas que se levarmos em conta a inflação acumulada no período o dólar está mais valorizado do que em 1995, mais do que no século passado então.Mas pergunto aos especialistas, estamos levando em conta que grande parte desta já citada inflação ocorreu devido a valorização do já citado dólar em relação ao real?
Estamos, eu pergunto também, computando o fato de que faz três anos eram necessários 1,2 euros para comprar 1 dólar e hoje a relação se inverteu?
E pergunto ainda mais, seriam propaganda enganosa os dois estudos que foram lançados este ano e mostraram que Rio de Janeiro e São Paulo são das cidades grandes mais baratas para se morar no mundo? Só pode, já que nelas circula a super-ultra-hiper-valorizada moeda chamada real.
Quanto a infra-estrutura.
Há duas coisas a serem ditas sobre ela.
Que influencia o lucro do exportador não há dúvida. Só que também o faz com o importador. Os portos são os mesmos para ambas as partes, as estradas também, como qualquer outra forma de transporte dentro do nosso território.
Poderemos melhorá-los, e acredito que devemos, só que isto não significará necessariamente que nosso saldo comercial aumentará. Minha aposta é que aconteceria justamente o contrário. Nossa carga tributária passaria a ter um papel mais preponderante nos custos caso a infra-estrutura melhorasse. Quem vocês acham que sairia ganhando?
Ainda sobre a infra-estrutura, quero dizer que o dinheiro que é gasto devido a falta deste não é, digamos, “vaporizado”. Mas é isso que as análises fazem parecer, por exemplo, quando dizem que os produtores de soja norte-americanos ou argentinos são mais competitivos por terem um frete médio mais barato que os brasileiros. Primeiro porque este não é o único custo e segundo porque o dinheiro não desaparece, simplesmente.
Todo o dinheiro gasto a mais com transporte rodoviário em detrimento a tão sonhada matriz sobre trilhos ou sobre barcaças alimenta uma grande cadeia que vai dos caminhoneiros e passa pelos frentistas de posto de beira-de-estrada, passando por concessionárias, mecânicos, indústrias de auto-peças, etc. Muitas das engrenagens desta cadeia inclusive ganharam escala que as credenciaram a competir pelo mercado externo devida a grande escala destes negócios no Brasil.
Desta forma, a mudança da matriz de transporte poderá trazer grandes vantagens ao exportador - e ao importador – só que não significará também uma grande perda para toda esta cadeia.
Dizer que o país sairá ganhando é uma generalização que não me atrevo a fazer de sopetão.
É certo que os analistas devem tentar antecipar os acontecimentos, só que as análises parecem deslocadas d realidade. Em um país esquizofrênico faz todo o sentido.

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Desculpe qualquer coisa

Enquanto muitos analistas e políticos acharam o pronunciamento de Lula no encontro ministerial desta manhã positivo, eu o achei extremamente negativo.
Lula deixou o palanque para fazer um pedido de desculpas à nação, mas; pelo quê?
Apresentou-se como vítima de uma traição, mas; por parte de quem?
Nem esmo a acusação textual por parte de Valdemar Costa Neto de que Lula sabia do acordo de 10 milhões de reais, pelo apoio dado pelo PL ao então candidato a Presidência da República, foi citada.
Ou seja, nem em um pedido de desculpas Lula demonstra estar ciente de algo. Continua usando o figurino “Jatobá”.
Nada vê, nada viu e, aparentemente, nada verá.
Tudo está acontecendo a sua revelia. O que é bom e o que é ruim acontece a despeito de Lula.
O que mais indigna é isso. O Brasil não tem governo.
Pobres de nós.
Ou, como pude inferir do discurso de Lula: desculpa qualquer coisa.

Os elementais

No universo dos quadrinhos de heróis há uma grande gama de tipos: os justiceiros (Batman é o mais famoso desta classe); os alienígenas (Superman); os mutantes (X-man); os mitológicos (Thor); os místicos (John Constantine) e etc. Muitas vezes estas classes se mesclam em uma única personagem.
Uma classe não muito explorada é a dos chamados elementais. Estes seriam personagens que personificam os elementos da natureza e a eles controlam. Como exemplos poderíamos citar Ororo Tempestade dos X-man e Monstro do Pântano, de cujas histórias retirei esta denominação de elemental. São sempre, nos quadrinhos, seres extremamente poderosos e, no mais das vezes, torturados justamente por este excesso de poder, que os afasta dos humanos, como a deuses de seus devotos.
Mas algo que foi pouco explorado é o de que hoje, no ano da graça de 2005, somos todos parte de uma grande entidade elemental, a raça humana. Estamos manipulando a natureza em ritmo de cataclismo e colherá as conseqüências, boas e ruins.
Para todos os lados que se olham há sinais da mão humana. Há na mudança de características fenotípicas de espécies animais, como relata a revista Veja desta semana ou em características geográficas como na seguinte reportagem da Folha Online, no link a seguir: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u13576.shtml .
O certo é que não há como negar o chamado Efeito Borboleta.
Esta denominação, retirada de um conto de ficção científica de H. G. Wells - se não me engano -, significaria que qualquer ato, por mais insignificante que pareça, tem repercussões que podem vir a ser desastrosas.
Dito todo este prelúdio, onde quero chegar?
Bem, talvez a abordagem dos preservacionistas não seja a mais adequada. As espécies (animais, vegetais ou quais mais houverem) se modificam continuamente e a sua capacidade de se adaptar é diretamente proporcional a velocidade com que se reproduz.
Portanto pretender manter os habitats intocadas é verdadeiramente antinatural. Espécies morrem e nascem todos os dias. Não há como manter redomas entre estas espécies, seus habitats e o mundo habitado pelos humanos.
A força das espécies consiste em conseguir se adaptar aos desastres e cataclismos naturais. O homem (como espécie) é um cataclismo que está se desenhando nos últimos milhares de anos e não há como reverter o que já fizemos.
É verdade que simplesmente devastar áreas sem pensar nas conseqüências é uma atitude burra, mas tentar mantê-las intocadas não é a contrapartida inteligente.
A proibição de acesso e exploração econômica de uma área muitas vezes faz com que o processo de degradação se acelere
Talvez alguma espécie de primata pereça, ou talvez um belo pássaro canoro. Não serão os primeiros pecados humanos e não serão os últimos.
Pode parecer fatalismo – eu chamo de realismo – mas a maioria das espécies ameaçadas de extinção está fadada a isto. Não será salvando uma pequena faixa de terra que as salvaremos.
Serão no máximo fantasmas confinados em imensos zoológicos.
A chave agora é mais tentar salvar o conjunto, mesmo que empobrecido, mudando nossa forma de inserção no meio.
Acredito sinceramente que estamos chegando ao ponto de inflexão e nossa capacidade de não lesar o meio-ambiente vai crescer exponencialmente a partir de agora.
Espero estar correto.

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

Português claro

No meio da brigaiada das CPIs parece que muitas perguntas estão ficando sem resposta.
Vou dar um exemplo, a motivação que Marcos Valério afirma para ter se envolvido neste imbróglio.
Isto teria ocorrido devido a certas pressões sobre os contratos que as agências do “publicitário” tinha com o Banco do Brasil. Caso Valério não “ajudasse” o PT, este poderia vir a romper com os contratos, insinuou o “empresário”.
Mas vamos tentar depurar as coisas.
Aparentemente, segundo o sócio Cristiano Paz, o primeiro empréstimo foi de 12 milhões de reais. Com juros camaradas de, digamos, de 1 por cento, teríamos que a SMPeB arcaria com encargos financeiros, sem contar as taxas, de 120 mil reais mensais.
Levando-se em conta que os lucros da agência com o contrato fossem de 20 por cento, precisaria de um contrato que, apenas para pagamento de juros, de 600 mil reais mensais.
Agora vamos extrapolar na imaginação. Caso o contrato de empréstimo fosse para ser saldado em dois anos.
Para que o contrato apenas empatasse o jogo, e não remunerasse a empresa, seria necessário que o banco do Brasil tivesse contratado serviços de 75 milhões de reais no período.
Isto seria mais do que o faturamento isolado da empresa antes do seu envolvimento com o PT.
Então, você financiaria um partido, colocando sua empresa em risco, a troco de nada?
Usando as palavras de Marcos Valério: “vamos falar o português claro”. No mínimo é estranho, e pode muito bem ser irregular.

terça-feira, 9 de agosto de 2005

É incrível

O fato de a imprensa não explorar o fato de que todos os parlamentares que receberam remessas de dinheiro, fossem quais fossem os motivos, cometeram crimes.
Digamos que realmente, e em todos os casos, os “recursos não contabilizados” eram para saldar dívidas de campanha. Crime eleitoral é crime continua sendo crime, não é por estar na esfera da política que se transforma em outra coisa.
E há os crimes comuns também. Não sou advogado – portanto não entendo nada de legislação –mas tudo leva a crer que haveria pelo menos um delito, contra a ordem fiscal, pois dinheiro não contabilizado supõe-se não tributado também. Há também grande chance de haver falsidade ideológica e formação de quadrilha. Isso sem contar que, se houver dinheiro público envolvido, peculato, prevaricação e um monte de outros nomes esquisitos desta estirpe.
Então é de causar especial indignação a reação dos deputado que confessam os “pecadinhos” e completam, com a maior cara-de-pau, que todo mundo faz, portanto ele pode fazer.
Só isso já seria motivação para cassação. Um deputado dizendo que está quebrando a lei é mais do que um incentivo para que a população comum também o faça. Confessando isso em rede nacional, e bradando aos quatro ventos estar certo, é mais do que quebra de decoro parlamentar. Podem cessar as investigações e punir.

sábado, 6 de agosto de 2005

E algo a celebrar

O artigo de Thomas Friedman “Nova lei de energia dos EUA não pode ser séria”, publicado hoje na “Folha de S. Paulo”, traduzido do original do “New York Times”, é digno de regozijo, pois além de pedir enfaticamente por uma nova política de energia nos Estados Unidos, inclusive diminuindo a presença do petróleo “alimentador de terroristas” do Oriente Médio, definição dele, por matrizes verdes, como o nosso, citado no texto, etanol.
O texto não só mostrou-se favorável a adoção mais efetiva de biocombustíveis no território norte-americano como contrário às barreiras contra a importação de produtos derivados de cana do Brasil.
Que nós já vencemos todos os desafios técnicos para a utilização de etanol como combustível, tornando-nos por tabela nos mais capazes e confiáveis produtores deste recurso renovável, não é nenhuma novidade. Para vencermos as barreiras alfandegárias que nos impede de fornecê-lo a outros mercados teremos muitos outros desafios, políticos na sua maioria.
Contar com a ajuda do mais influente jornal norte-americano para minar as forças dos “lobbies” que nos atrapalham é uma forcinha que não estava no roteiro, mas que deve ser comemorada sempre.
A opinião pública do possível mercado a ser conquistado é sempre o melhor aliado a se ter.

Muito a lamentar

A crise política que nos enlameia a vista, traz a tona problemas administrativos maiores do que parecem.
Dia após dia, percebemos que a crise apenas ocorre devido à ineficiência fiscalizatória das instâncias de governo.
O estado das coisas só chegou até este vexame geral porque órgão após órgão, instituição após instituição, deixou de cumprir seu papel. Agora nós somos informados de que Marcos Valério tem posses e movimentação financeira incompatíveis com o que está registrado em sua declaração de bens; que um sem-número de contratos foram super-faturados; que as contas de campanha de todos (isto mesmo, todos) os políticos utilizam de caixa 2 em suas campanhas; que os tribunais eleitorais são ficção pura; etc, etc e etc.
Àqueles órgãos atrelados diretamente ao governo, poder-se-ia dar o desconto, indesejável, da crença na boa-fé de seus superiores ou da inépcia inquisitória por pressão dos mesmos. Mas o que dizer do Ministério Público e da mídia independente?
A eles esta desculpa esfarrapada não serve, uma vez que nem ao menos o esquema que envolvia o, não sei sinceramente como descrever a sua (dele) função, ilustre Marcos Valério era um primor de sofisticação ou um intrincado sistema que escondesse as evidências do ilícito.
O modo como o esquema despencou, um castelo de cartas não o faria de modo mais rápido, e o quase inimaginável número de “impressões digitais” espalhadas por aí revelam o quão tosco este era.
Desde as mudanças de partido até as vitórias de medidas impopulares no Congresso (marcadamente na Câmara, que se rebelou primeiro ao controle do Executivo), passando pela rápida mudança de padrão de vida de agora ilustres - e infames - figuras nacionais, tudo levava a crer que algo de muito errado havia pelos lados do planalto.
De modo que, o maior escândalo desta sucessão deles foi o de nada ter vindo a público antes.
A infinidade de auto-elogios sobre a atuação da mídia após as denúncias apresentadas por Roberto “Homem-bomba” Jefferson não espiam o pecado original da falta de apuração prévia. Podemos até dizer; antes tarde do que nunca, quando este tarde só acontece por intriguinhas palacianas, algo de podre há.

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

Desconfio...

Que o motivo da melhora significativa dos números econômicos tem nome, data e local de nascimento.
A certidão foi o discurso de Lula no qual foi dito que a economia do país ainda está muito frágil.
Se aquele que diz que é melhor falar besteira do que fazer disse isso, é por que deve ser justamente o contrário.
Daí dólar despencando e bolsa subindo.

E outra

Quem você acha que deve ter mais crédito:
Aquele que faz denúncias e mais denúncias a cerca de dois meses e as vê comprovada uma após a outra ou aquele que não sabia de nada, principalmente sobre as quais ele deveria saber, não via nada, eu não tenho nada a ver com isso, não me comprometa?
Difícil, não?

Mais uma questão

Se todos os recursos eram para pagamento de dívidas de campanha, cadê os devedores, as notas e os contratos?
Hoje em dia tudo é feito no “fio de bigode”?

terça-feira, 2 de agosto de 2005

Abandonando o barco

Com os rat... quer dizer, os parlamentares, abandonando o barco, fica mais difícil abafar o caso.
A conta é simples, a cada um que renuncia, mais o foco vai para os demais. Digamos que tenhamos 20 cassáveis, levando-se em conta que deva existir um número grande de cassações para aplacar a opinião pública, os demais terão menor possibilidade de conseguir a complacência de seus pares.
Sabendo disso, é maior o “incentivo” para que o próximo parlamentar renuncie, aumentando a pressão sobre os demais por cassações. Um verdadeiro ciclo virtuoso para o país, se não há a punição, pelo menos economizamos um pouco nossos ouvidos para desculpas esfarrapadas.
O triste é que corremos o risco de em janeiro de 2007 termos alguns destes distintos senhores, e senhoras, sentados nas cadeiras do plenário. Fazer o quê?

O cordão ...

Dos puxa-sacos sempre foi grande e cada dia aumenta mais, mas o dos “ingênuos” tem seguramente o maior índice de crescimento do mundo, muito maior do que o índice das economias asiáticas.
Agora apareceu a ex-mulher do ex-primeiro-ministro e ex-capitão do time, José Dirceu.
Teve uma ajudazinha para vender o apartamento, teve uma ajudazinha para conseguir um empréstimo e teve uma ajudazinha para conseguir um emprego. Convenhamos, é muita ajudazinha, o santo deve ter desconfiado imediatamente.
Quem ajudou? O bom samaritano conhecido como “carequinha”.
Isso mesmo, Marcos Valério.
Pode até não ser, mas parece muita coincidência.
Mais coincidências?
O emprego é no Banco BMG, já ouviram falar?
O empréstimo é no Banco Rural, outro muito pouco falado hoje em dia.
E o comprador do imóvel é o senhor Rogério Tolentino, por acaso sócio de Marcos Valério.
Motivos para esta ajuda toda?
A ex-mulher de Dirceu afirmou que acreditava que os motivos de Valério eram, resumindo, solidariedade e solidariedade.
Agora, ela suspeita que pode ter sido usada.
Seria o caso de devolver os presentes?
Não sei, mas a “ingenuidade” ganha mais adeptos. Isso eu posso afirmar.

Nem começou a semana ...

(Parlamentar, é bom lembrar sempre), já começam a cair parlamentares.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, não teve a paciência de esperar pelo resto de seus pares para pedir as contas e dizer que sai para se defender melhor.
E parece que a semana vai ser muito, mais muito movimentada mesmo neste ponto.
Ao que parece, Simone Vasconcellos apresentou 52 nomes ligados a parlamentares, ou seja, mais 52 possíveis renuciadores.
E amanhã será o “grande encontro”, a “luta do século” começa de fato, com o depoimento/defesa de José Dirceu.
Muitas emoções, não?