A revista Exame que está agora nas bancas iniciou uma série de reportagens que pretende demonstrar que estamos fadados ao convívio com a energia cara, tudo isso aproveitando a ufanística campanha da auto-suficiência petrolífera.
Diz ela que com o fim da abundância do petróleo em nível mundial acaba-se por encarecer todas as outras formas de energia, pela diminuição da concorrência e pela incapacidade de geração.
Isto é apenas uma meia-verdade, e no caso específico do Brasil uma completa mentira.
Não entramos definitivamente na era do petróleo caro; o preço atual é altamente especulativo e tende a derrubar rapidamente o consumo pela adoção de tecnologias já completamente desenvolvidas. No caso específico da gasolina há tanto a possibilidade de adição de biocombustíveis quanto, e principalmente, o uso de carros híbridos – mais caros porém com o dobro de eficiência energética.
Sendo assim, não há verdadeiramente diminuição da concorrência pelo preço da energia e sim manipulação dos mesmos pelo cartel mais forte. Qualquer perigo ao domínio exercido por este cartel trará os preços para patamares mais “civilizados”.
Ainda em relação aos preços, existem externalidades ocultas nos custos baixos do petróleo. Uma vez que estas passarem a ser “precificadas” verificar-se-á que a energia proveniente do petróleo e de outros combustíveis fósseis não é tão barata quanto se imagina.
Tomemos por base a economia que é mais petróleo-intensivista no mundo, os Estados Unidos da América. Ela tem custos militares exorbitantes para assegurar seus suprimentos do “ouro negro” e ainda está às voltas com desastres naturais que provocam prejuízos equivalentes às suas importações de petróleo, desastres que são possivelmente intensificados pelo uso de combustíveis fósseis.
Quanto à incapacidade de geração, outra incorreção. Há sim capacidade de gerar energia “alternativa”, o que não existe é a segurança por parte dos consumidores e dos produtores em utilizá-la.
As mais estudadas no momento são a eólica e a solar, porém ambas são por natureza instáveis e incompatíveis com os usos que requerem uma constância de fornecimento. Por isso para seu uso são necessários redundância de geração ou caros processos de armazenagem de energia. Ou seja, um consumidor necessitaria de outro gerador para supri-lo nos momentos de calmaria dos ventos ou em que o céu estivesse nublado ou de baterias para as mesmas situações.
Só que estes custos podem ser minimizados por redes em forma de grade, que liguem muitos consumidores e geradores, principalmente se estas cobrirem grandes áreas, que minimizam os efeitos locais. O Brasil seria um local ideal para se colocar algo assim em prática devido a sua vasta rede hidrelétrica, que permite acumular o potencial energético nas represas, e sua extensão.
Portanto o uso de “alternativas” é condicionado a uma forte regulação que assegure margem de lucro ao produtor frente à especulação do cartel do petróleo e a antiga “vontade política” para enfrentar o mesmo cartel, sem se esquecer que a regulação deve resguardar totalmente os consumidores.
Em conclusão, não acredito que estamos próximos de uma crise energética, de oferta ou de custos. Porém ainda estamos vulneráveis a crises como estas e devemos aproveitar as chances que a tecnologia já nos trouxe para nos imunizarmos e garantir a sustentabilidade de nossa economia mundial.
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