quarta-feira, 26 de abril de 2006

Exportações: pra quê?

O Brasil exporta cada vez mais e tem alcançado nichos que antes não se imaginava, mas cabe pensar: e nós, o povo, com isso?
Pelo que se apreende do discurso econômico dominante, o povo só tem a ganhar com o incremento das exportações. Só que isso é uma fantasia, tanto pode ganhar como pode perder; tanto é assim que com as restrições que alguns itens de nossa lista de exportações sofreram houve um recuo da inflação no início do ano.
Generalizando, em oposição importação e exportação o povo ganha mais com a primeira e o grande capital com a segunda pois, enquanto os ganhos da importação se espraiam por todo o contingente de consumidores, os ganhos das exportações se concentram nas camadas produtoras; sendo tanto menos generalizado quanto mais primário for o item exportado.
A exportação só é boa para o povo quando ela indica a combinação de duas variáveis; excedente interno e vantagem competitiva.
A primeira ocorre quando a capacidade de consumo é suplantada pela de produção em uma certa região. Se não passar a exportar, o produtor terá que cortar a produção e, provavelmente, empregos.
Na segunda variável há uma combinação de fatores que faz com que o produto local seja mais atraente que o seu concorrente de fora. Deste modo o produtor tem o seu mercado cativo devido as qualidades superiores e ainda pode concorrer no resto do mundo procurando novos.
Em qualquer outra situação há um deslocamento dos clientes locais pelos dos clientes de fora, gerando aumentos dos produtos exportados e perda relativa de renda da maior parcela da população.
Mas se não apresenta necessariamente uma vantagem para a coletividade, por que as exportações são saudadas enquanto as importações execradas?
Isto ocorre por uma visão que aponta o outro como um competidor sempre, não como um parceiro. E este outro pode ser entendido em todos os níveis. Seja ele individual ou das coletividades (a outra empresa, cidade, nação, etc...).
Por esta visão a exportação é uma vitória na “guerra” comercial, a importação uma derrota e o déficit uma capitulação.
E, apesar do que os governantes e os líderes empresariais e sindicais mundo afora dizem, isto é muito distante da verdade.
A função do comércio – seja entre indivíduos, seja entre países- é permitir que os mais aptos para uma função exerçam suas potencialidades sem ter que gastar energia e demais recursos em algo para os quais não têm capacitação. Ganham eles por fazerem o que conseguem bem e ganha a sociedade por ter seus recursos preservados. O comércio é, portanto, uma ferramenta para o bem-estar da sociedade em geral.
A importação seria a captação externa de recursos para a melhoria deste bem-estar sendo mais essencial que a exportação destes recursos, que deveria ser minimizada até o ponto de garantir-se a compra dos itens necessários. Isto é tudo no mundo idealizado.
Porém, não é por não viver em uma utopia que se deve buscar a exportação a todo custo. O Brasil já superou escassez de dólares e não precisa mais tentar conter as importações. Estas trazem novas tecnologias e contêm os preços internos, beneficiando a população.
Superávit comercial fica bonito no gráfico, mas só quando as necessidades do povo que sustenta já estão atendidas; senão o modelo China, um bando de escravos trabalhando pelo bem-estar da elite do partido e felizes por acharem que estão bem, e livres.

3 comentários:

Anônimo disse...

Desculpe, Gian, mas acredito que esteja errado por qualquer teoria econômica que queira nominar. Está errado em termos keynesianos, pois não leva em conta os multpilicadores de renda (o "Grande Capital" não tem como concentrar renda, porque também consome), está errado em termos liberais (aliás, de longe), está errado em termos schumpeterianos, onde a receita e o lucro das exportações são necessárias à manutenção de empregos no país, como todo lucro.
Podemos até aprofundar essa discussão, mas, além de tudo, em termos gerais, o comércio internacional é um importante sustentáculo da Paz: dois países que fazem parte da cadeia de suprimentos da Dell não entram em guerra...

Gian disse...

Desculpe se não me fiz entender, Mendonça.
Não creio que o país deva se fechar e não exportar. Apenas acho que não devemos fazê-lo a todo custo.
Como disse no texto acredito que o comércio é uma ferramenta de bem-estar da sociedade.
Defendo apenas uma balança comercial mais equilibrada, por linhas tão tortas que não ficou claro ao final, pois nada adianta sermos uma plataforma mundial de exportação e nossos consumidores do mercado interno não tiverem acesso aos bens e serviços, tanto os importados quanto os que produzimos.

Anônimo disse...

fala, Gian! surpreso por me encontrar aqui? bom, eu também. Li este texto e também quero comentar... duas coisas, basicamente, entao, vamos lá:
1) a teoria da vantagem competitiva nao funciona. produzir bananas porque somos "bons" (ou seja, produzimos mais barato e de melhor qualidade que os demais competidores) é um erro e seus resultados podem ser vistos no pobre Equador, que vai acabar firmando um TLC com os EUA por falta total e completa de opçao. dá pena! vai se condenar a vender bananas por 20 anos (supondo que o TLC dure "apenas" isso...) e comprar tecnologia norte-americana... pra que tenham algum lucro nesse intercâmbio, vao ter de produzir bananas até nos lindos vulcoes da Carretara dos Volcanes...
2)sim, exportar é melhor do que importar. porque permite a entrada de divisas de um modo que nao seja pelo endividamento ou por meio dos investimentos externos diretos (que, a seu modo, sao outra forma de endividamento...). daí a concordar com o que se faz com as divisas que entram graças a uma balança favorável é outra história... definitivamente, utilizar esse excedente pra pagar os juros de uma dívida que há dez anos o partido defendia que nao era nossa é deprimente.

bom, tem um terceiro tema que nao tem nada a ver com a balança comercial... feliz aniversário!! parabéns e exagere quanto quiser nas caipirinhas durante a comemoraçao... afinal, aí estao os produtos em que temos vantagens competitivas... limao e açucar, pelo menos... beijo,