Há inúmeras tentativas de explicar o porquê de a Europa mais ao norte, e seus filhotes, como os Estados Unidos da América, ser mais desenvolvida do que o resto do mundo. Martinho Lutero (o da ilustração) é considerado um diferencial importante. A mais famosa tese a enveredar por esse caminho, sem dúvida alguma, está expressa em A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber, que imputa uma essência religiosa à maior capacidade econômica encontrada por aquelas paragens.
Existe, ao meu ver, entretanto, uma falha nesta visão. Muitos dos países luteranos foram extremamente pobres durante muitos anos após a massificação dos ensinamentos éticos do monge. Os tão celebrados países nórdicos são o melhor exemplo. A Suécia foi um emissor de imigrantes para o continente americano importante durante décadas, como provam os sobrenomes mais comuns do meio-oeste norte-americano.
De modo análogo, a Itália, ou o território que viria a sé-la, abrigou as potências econômicas comerciais do Iluminismo e a península ibérica dominou o mundo durante o período denominado das "Grandes Navegações", mesmo sobre o peso moral da Igreja Católica tradicional, ou, talvez, se formos ser deterministas com relação à tradição religiosa, por causa dele.
Na minha opinião o grande diferencial está, sim, em uma inovação de Lutero, mas no campo das políticas públicas associadas às necessidades de uma ligação direta com Deus, como ele pregava, sem a intermediação necessária dos pregadores, como a relatada neste exerto, retirado de um artigo sobre o monge:
Entre as renovações que propôs, Lutero advogou pela alfabetização maciça e indistinta: cabia aos pais levar os filhos – e as filhas, novidade radical – para as escolas, além de tratar também da alfabetização dos empregados. “Lutero propõe mudanças tanto na organização do sistema escolar, tratando de questões sobre currículo, métodos, formação de professores e financiamento, como defende novos princípios e fundamentos para essa educação”, diz Luciane Muniz Ribeiro Barbosa.
O fato de ter grande parte de sua população alfabetizada em um momento histórico em que educação passou a ser um diferencial deu o impulso inicial para aqueles países de religião dominante protestante. Foi a eles permitido um treinamento fabril mais rápido e eficaz e o desenvolvimento da indústria de serviços elaborados, como o setor de seguros e financeiros, que só agora, junto com a disseminação da educação formal, começam a espraiar-se mundialmente.
Creio que a prosperidade econômica foi uma externalidade positiva da educação propagandeada por Lutero, não de uma ética especial dos países que o ouviram. Um bom laboratório para testar minha tese é o nosso país. Continuamos tendo a "malévola" ética católica, mas os índices de analfabetismo estão caindo. Veremos se haverá, ou não, um aumento da riqueza geral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário