quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Furtado

Vejam só vocês, depois de ouvir por anos afins que Furtado disse isso, Furtado disse aquilo, resolvi conferir o que o pensador tinha a falar no seu livro mais famoso, “A formação econômica do Brasil”.
Antes mesmo de falecer em 2004, o economista já era considerado um santo pelos esquerdistas e pelos “desenvolvimentistas” de todas as matizes.
E dá para entender perfeitamente, já que seus escritos, provavelmente com uma concepção nova para a época, mostra uma visão completamente condizente com o pensamento que, utilizando uma expressão popularizada pela Veja, é a vanguarda do atraso.
Furtado diz que durante toda a história econômica retratada por ele, e o detalhe é que o livro é de 1959, o setor exportador foi amplamente favorecido por políticas deliberadas em detrimento dos demais setores da economia – o que, diga-se de passagem, não é nenhuma novidade para mim e nem para ninguém – e em alguns períodos houve o congelamento cambial, em condições extremamente desfavoráveis para o consumidor, para que a nascente indústria ganhasse competitividade.
É claro que Furtado defendeu estas políticas deliberadas, uma vez que o pobre capital produtivo tinha que ser fomentado, gestado, cuidado, alimentado, etc... e que se dana-se o resto da população, simples fator de produção a ser manejado pelos produtores.
Não é de causar espanto que uma visão seja endeusada por um amplo espectro da política. Afinal o povo mais a esquerda pensa no ser humano como uma engrenagem do sistema e o mais a direita como um insumo, mas me admira muito a admiração que suas idéias do que é certo e errado para a economia nacional seja apoiada por alguém de perfil, digamos, centrista.
E me admira mais ainda que pessoas ligadas ao governo atual queiram a todo custo aplicar o receituário desenvolvimentista explicada na obra, é simplesmente mais do mesmo que foi aplicada no país durante toda a nossa história, excetuando-se o denegrido período “neoliberal” que estamos vivendo agora. Ou seja, mais do mesmo que nos levou à situação que chegamos hoje.
Não me parece sensato, mais, oras, a sensatez é uma qualidade supervalorizada no mundo, não?
De concreto, pode se ficar com um comentário da contracapa da edição que eu li, retirada de Celso Furtado (Francisco de Oliveira, 1983): “ninguém, nestes anos, pensou o Brasil a não ser em termos furtadianos”. Creio que isso se aproxima muito da verdade, o que só vem a confirmar o rodriguianismo que diz que toda a unanimidade é burra.

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