sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Desperdiçando desenvolvimento

Em artigo sobre a busca de novas formas de contabilização da riqueza que não o PIB, Washington Novaes (íntegra aqui) relata que, a respeito do transporte, "o paulistano consome em média duas horas diárias para isso; multiplicadas por 5 milhões de pessoas, serão 10 milhões de horas por dia, que, multiplicadas pelo número de dias no ano e pelo valor médio da hora de trabalho, produzirão um valor fantástico - que, se pudesse ser transposto para investimento em transportes públicos (ampliação da rede do metrô, por exemplo), em poucos anos melhoraria extraordinariamente a qualidade de vida dos cidadãos."
Capital é, classicamente, definido como o fator socialmente produzido utilizado, no sistema capitalista, na produção de bens e serviços destinados à venda (as mercadorias). Georgescu-Roegen o divide em dois: os fundos de serviço e os estoques. Os primeiros são formados por máquinas, prédios e equivalentes, e o segundos por matérios-primas, produtos acabados e peças de reposição. Estes podem ser armazenados enquanto aqueles constituem desperdício quando não utilizados.
Para entender como ocorre o desperdício devemos nos atentar para a natureza destes fundos de serviço. Como o próprio nome indica, eles têm como função prestar algum serviço econômico durante o processo de produção de um bem ou serviço sem incorporar-se ao produto final. É, portanto, um capital do qual se frui o tempo efetivamente usado e apenas ele. Como o tempo não pode ser estocado, por mais que esse seja o sonho de quase todos, deixar de utilizar um fundo de serviço equivale a desperdiçar tempo e, como sabemos a relação entre eles, dinheiro. A idéia proposta por Georgescu-Roegen é, como vimos, facilmente demonstrável. Se não é mais utilizada na análise econômica neoclássica é porque seu cálculo agrega uma complexidade que poucos querem enfrentar.
O conceito de capital humano segue as mesmas linhas gerais, e é todo do tipo fundo de serviços. Apesar das questões éticas envolvidas - alguns recusam-se a considerar pessoas, e não o ente abstrato trabalho, como parte da engrenagem da produção capitalista -, a não utilização plena desse tipo de capital tem implicações para o país além das sociais, que podem ser mitigadas com ações distributivas, como o Bolsa-família. Essa falha econômica resulta no empobrecimento geral da nação, pelo não aproveitamento de potencialidades que não podem ser estocadas.
A plena utilização do nosso capital humano, seja diminuindo a taxa de desemprego, seja melhorando a eficiência do transporte coletivo para que ele não fique represado em congestionamentos constantes, como os paulistanos, deve ser a busca de todos os governantes deste país. Qualquer coisa diferente disso é contraproducente para o desenvolvimento.

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