sábado, 3 de janeiro de 2009

Sensatez, não pessimismo

Os personagens desta reportagem, pelo que parece, são apontados como pessimistas, mas são, no máximo, sensatos ao falar o que qualquer um pode ver e não tem coragem de dizer.
Apostar contra os Estados Unidos, uma potência militar, é considerado loucura desde o colapso da União Soviética. Livros como O fim da História e o último homem, de Fukuyama, propagaram a idéia de que o capitalismo de viés norte-americano havia triunfado e congelaria o poder mundial, mantendo-o com os países ricos ocidentais. Alguns aplicadores começaram a achar que não havia risco na revogação da lógica que passou a imperar na economia estadunidense.
Lendo meu blog, vocês perceberam que apóio a tese de que a nobreza está em consumir, gerando bem-estar à população, e que a produção serve apenas para dar suporte para a sociedade fazê-lo. Há também, porém, uma versão, que considero inversão de valores, que leva economistas a pensar que se deve sempre aumentar a produção, pois ela cria o consumo e o bem-estar. Esta tese é baseada na chamada "Lei de Say".
Nos Estados Unidos a tese invertida parece não ter encontrado solo onde se enraizar. Em compensação, criou-se uma radicalização da sociedade de consumo. Pensou-se que se poderia consumir sem produzir. Que um país com déficits externos imensos, e crescentes, poderia manter-se consumindo eternamente mais do que produz, e que as demais nações permitiriam isso indefinidamente, financiando-o ad eternum. Um arranjo impossível, mas que os analistas consideravam desejável e, portanto, procuravam justificar sua manutenção.
Os três analistas da reportagem saíram da manada. E estão certos em fazê-lo. O que dizem é puro bom senso e fatos históricos. O último país a cair em uma armadilha semelhante àquela em que os Estados Unidos entraram, o Japão, ainda se debate com o baixo crescimento, permeado por períodos de recessão prolongada. Os investidores que fugiram para o dólar não demorarão a perceber que, se no curto foi uma boa escolha, o diferencial o crescimento mundial e o (des)crescimento estadunidense derrubarão o valor da moeda, o que, somado aos baixos juros pagos pelo Tesouro daquele país, redundará em prejuízos. Pelo mesmo motivo as ações das empresas dos países chamados emergentes serão as mais lucrativas do período.
Vemos, então, que esses analistas estão rindo agora e permanecerão com sorrisos por um bom tempo.

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