segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Energia solar no Brasil

O Estadão de ontem trouxe uma reportagem sobre o potencial energético solar do Brasil. Comenta que o que impede a ampla utilização dela é o alto custo de captação da mesma. Que há um custo maior de captação é inegável, mas que isso seja um empecilho para a utilização desta forma de energia, abundante no Brasil, é discutível.
Quando entramos na seara de matriz energética, devemos analisar vários aspectos, não apenas a geração. E o custo não é apenas financeiro, mas de várias matizes. Se o custo de captação solar é alto, outros são minimizados, como a distribuição e transmissão.
Os gigawatts provenientes do rio Madeira precisarão atravessar milhares de quilômetros enquanto células fotovoltáicas podem ser instaladas nos telhados das residências que utilizarão a carga. Essa lógica já é utilizada no programa "Luz para todos" do governo federal, que é refratário a utilização dessa forma de energia em larga escala, como pode ser observado no vídeo abaixo.



Essa peculiaridade torna o argumento de falta de economicidade do processo fotovoltáico bastante fraco. Computados os preços realmente pagos pelo consumidor final residencial, a solar já é mais barata do que a fornecida pelas distribuidoras de energia elétrica da grande maioria das regiões metropolitanas. O custo de implantação, porém, é um fator importante, pois, devido aos altos juros praticados no país, a amortização do investimento inicial é bastante demorada. O mesmo vale para a substituição de aquecedores elétricos por solares. A falta de poupança das famílias brasileiras responde, então, pela pouca aderência às tecnologias.
Políticas públicas podem ser eficientes em reverter a tendência de preferência por grandes obras que, a primeira vista, parecem melhores para a economia do país. Descentralização da geração elétrica é uma forma eficaz e inteligente de proteger estrategicamente o país. Um simples míssil pode destruir 20% da capacidade hidrelétrica brasileira, personificada em Itaipú, mas seriam necessárias milhares, na forma de ataques a toda uma população civil, se cada telhado brasileiro tivesse sua célula fotovoltáica instalada.
Além da evidente melhoria da segurança, a qualidade ecológica da geração também seria melhorada. Os gases estufa das termoelétricas seriam evitadas, restando essas usinas como última instância, ao contrário do que ocorre hoje. Os períodos de estiagem não comprometeriam tanto os reservatórios do sistema, por aumento da insolação e, conseqüente, geração solar.
Custos financeiros, como vemos, não é a única forma de avaliar-se um empreendimento. Muitas vezes não é nem mesmo o melhor. Parece-me que este é o caso aqui. O Brasil têm uma obrigação quase religiosa de aproveitar a potencialidade que a natureza nos oferece. Se dizem que Deus é brasileiro, o Sol deve nos aparecer todos os dias por uma razão maior do que bronzear as garotas de Ipanema.

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