Como tudo na vida, a tragédia de Santa Catarina traz lições. Tirando aquele papo todo de omissão do Estado, desrespeito as regras pela população e todas as demais mazelas que vêm sendo tratadas a exaustão pelo noticiário, devemos pensar também no que ficou patente a respeito da inadequação da infra-estrutura para suprir as contingências da paralisação de um serviço.
Ficou demonstrado que além de não evitar a tragédia, nossa infra-estrutura potencializa o dano, ao impedir uma rápida recomposição do tecido econômico, tirando assim os recursos públicos e privados que poderiam fazer o pós-tempestade menos deletério para as vítimas.
Esse mês de chuvas paralisou um porto essencial, cortou o fornecimento de um insumo-chave (gás natural) e de outros serviços públicos (água tratada e eletricidade), destruiu estradas de rodagem, etc; e, deixando inundadas de água e lama cidades inteiras, aumentou muito a necessidade de tudo aquilo que deixou de existir.
Será que este descompasso entre necessidade e disponibilidade não é fruto de uma estratégia de concentração da atividade produtiva e grandes obras que marca o Brasil desde o fim do liberalismo representado pela chegada ao poder de Getúlio Vargas? Desconfio que sim. Ainda hoje vemos esbirros da visão dirigista central na teimosia de enfiar goela abaixo da sociedade mega-obras como a transposição do São Francisco e as usinas do rio Madeira.
Creio que a população seria muito melhor servida caso a ênfase mudasse para pequenas obras, descentralizando desde a geração de energia até a distribuição de mercadorias, com redes em que os pontos focais fossem mais dispersos do que o que ocorre hoje. Talvez o custo inicial fosse mais alto, mas a segurança proporcionada pelo sistema compensaria.
Muitas das grandes obras do passado brasileiro tiveram como motivador mais um pensamento estratégico de consolidar o país como uma potência regional do que levar bem-estar à população. O contrário deve ser buscado agora, pois não seria o " melhor do Brasil, o brasileiro."
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