terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Quando começa mal

Só tende a piorar.
Israel era uma reivindicação histórica dos judeus, mas o modo como foi criado foi o mais absurdo e violento possível, e, como diz o livro sagrado que eles professam, quem com ferro fere, com ferro será ferido.
Desde o fim do século XIX, a colonização da chamada Terra Santa por judeus europeus estava em curso. O nacionalismo baseado em critérios étnico-lingüísticos firmava-se então, e todos que tinham projetos de poder queriam um Estado para chamar de seu. Ao sionista havia o adendo de o Torá citar a terra prometida, dando-lhes, em seu ponto de vista, direitos históricos sobre a área na qual não viviam a milênios.
A solução final nazista apenas acelerou um processo que estava em curso. O radicalizou, porém, ao fazer crer que a melhor maneira de convivência entre culturas diversas era aquela em que estão separadas por fronteiras bem definidas. Ou, melhor dizendo, a não-convivência.
O triste da transformação do nacionalismo do reconhecimento dos povos para o de segregação dos povos é que em seu seio floresceu o racismo. Os movimentos posteriores esmeraram-se em tentar parecer defensivos, mas foram extremamente violentos, responsáveis por inúmeras mortes. O que criou Israel não foi diferente. Gerou o deslocamento de milhões de palestinos e milhares de mortes. Isso para aglutinar uma nação que até o momento não existia.
Há, entretanto, o agravante religioso. Vimos durante o século XX que as tensões puramente nacionalistas acabam por acomodar-se. Guerras por comando de territórios fazem pouco sentido quando os mesmos são destruídos e seus recursos depletados. Isso torna mandatório que, cedo ou tarde, acordos duradouros terminem em convivência pacífica e segregação com compartilhamento das riquezas. Quando há o componente religioso, os resultados são diferentes.
Limpezas étnicas são muito mais freqüentes e os conflitos muito mais duradouros por que a briga passa a ser por algo imaterial. Não existe a depleção da fé, que, ao contrário, muitas vezes ganha corpo em ambientes de guerra. Há uma retroalimentação que acirra os ânimos e, muitas vezes, exige um elemento externo para conter a disputa.
No Kosovo, foi a entrada de tropas multinacionais. A questão israelo-palestina precisará de mecanismo semelhante, mas aqui contamos com um Estado que tem apoio incondicional da maior potência militar da atualidade e, dizem, armas nucleares.
A questão atormentar-nos-á, portanto, por um longo período.

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