sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Que se meça realmente a riqueza

O modo como medimos algo não é neutro. Ao escolhermos uma forma de medição ou mesmo uma unidade de medida, influenciamos o medido e, no caso das atividades humanas, podemos transformar todo o ambiente estudado. Tanto é assim, que as nações são muito relutantes em abrir mão de suas unidades culturalmente embasadas para assumir o chamado Sistema Internacional de Unidades SI.
A economia é um grande exemplo de como o modo como é feita a medição pode influenciar o objeto medido. A opção pelo PIB como medida de riqueza traz uma série de concepções que mascaram a riqueza de uma sociedade, e a forma como essa está sendo gerida.
A coisa já começa mal. O PIB não mede riqueza, mas fluxo monetário. Toma-se como verdadeiro que onde há grande fluxo, existe grande riqueza; ou seja, é uma convenção apenas. Acaba, como diz o dito popular, misturando pato com ganso, e os igualando.
O pior é que serve como base para outras medidas e ações. O PNUD, por exemplo, o utiliza como esteio no cálculo do desenvolvimento humano, IDH. Países o utilizam para mostrar poder, muitas vezes com índices maquiados. E o crescimento econômico a todo custo vira a meta principal devido à fé de que o Produto Interno Bruto indica o caminha da prosperidade, mesmo quando utilizados expedientes contestáveis ecológica e eticamente, como a obsolescência programada.
A idéia de que o PIB é o bom é tão forte que consegue até milagres. Fez com uma postagem minha fosse lida(raridade das raridades) e contestada por alguém que aparentemente sabia do que estava falando. Observem que, em termos gerai, o leitor Mendonça não estava contestando o que eu havia escrito, mas ressaltando a importância da renda, que é uma função do PIB. O detalhe é que as importações entram no cálculo do PIB diminuindo-o, enquanto as exportações o aumentam. Daí a defesa apaixonada do exportar.
Faz-se necessária mudança da forma de medição de nossa prosperidade. O Patrimônio Líquido Nacional (e aqui) parece-me a melhor maneira de efetuá-la. Cabe-nos não aceitar passivamente a lorota de que estamos mais ricos só porque o PIB cresceu. No mínimo, devemos fazer com que os dirigentes nos expliquem como isso ocorreu.

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