Tomando carona na postagem de ontem, farei uma consideração sobre o desperdício de materiais nobres que está ocorrendo globalmente, mas é muito visível no lixão do Pacífico.
Muitas vezes, algo é um transtorno individual e uma fortuna coletiva ao mesmo tempo. Quando estava no segundo grau, ia de metrô para a escola. Passando repetidas vezes por um trajeto, percebemos que as coisas seguem um certo padrão. Havia sempre os mesmo carros estacionados, provavelmente dos comerciantes locais, mas em uma vaga em especial a rotatividade era imensa. Só parava ali quem não conhecia as conseqüências. E no horário de saída do colégio estava lá um carro coberto de guano, e para quem não está ligando o nome à pessoa, era isso mesmo, fezes de pombo.
Imagino que infortúnio para o dono do automóvel era grande. Em imensas quantidades, porém, aquele material fecal fez a fortuna de nações inteiras. Heraclio Bonilla afirma que, do princípio da década de 1840 ao começo da Guerra com o Chile, conhecida como a Guerra do Pacífico, em 1879, a evolução econômica e política do Peru esteve na dependência, de um modo ou de outro, da exploração dos depósitos de guano das ilhas costeiras. O mesmo ocorreu em maior ou menor grau com a Bolívia e o Chile. Em alguns momentos, a renda proveniente da exploração deste recurso foi responsável por mais da metade da receita dos governos desses países, contribuindo para os acontecimentos que levaram à conflagração do conflito.
Garanto que os primeiros a ver aquele, literalmente, monte de bosta não devem ter percebido seu valor comercial. Nem o primeira a dar de cara com alguma efluência petrolífera. Nem o a avistar o lixão do Pacífico. Mas as oportunidades estavam lá para quem quisesse aproveitar; nos dois primeiros casos, algum empreendedor o fez, a próxima onda ainda está esperando o felizardo. Basta vontade e capital, o resto se arranja.
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