O plebiscito de amanhã na Venezuela é apenas mais uma nota da balada do louco.
É uma cartada desesperada. Chávez sabe que não terá sobra de caixa para mais um ano de distribuição de bondades entre as camadas pobres de seu país. A PDVSA já está enfrentando problemas e atrasando metodicamente os pagamentos às prestadoras de serviços que realmente extraem o petróleo.
A comercialização de produtos petrolíferos segue uma agenda de pagamentos na qual há um atraso de cerca de 90 dias entre a entrega do produto e a quitação. A Venezuela, portanto, só agora entrará na fase de receber os preços deprimidos da commodity, e, como o parágrafo anterior demonstra, os problemas já apareceram. Esse foi um dos motivos para a votação ser feita tão pouco tempo após a emenda constitucional passar pelo congresso.
A história é cheia de exemplos de depressão econômica seguida de mudanças de regime. O próprio venezuelano é um deles. Quando assumiu, há dez anos, o preço do óleo bruto estava cotado na casa dos 10 dólares, muito abaixo da média do século, o que impulsionou sua campanha oposicionista.
Em seu tumultuado governo, o tenente-coronel aprofundou a dependência venezuelana de artigos importados e concentrou as exportações no hidrocarboneto. Aplicando o chamado socialismo do século XXI, solapa a formação de mercados livres em seu país e, consequentemente, a criação de empresas. Subsidia pesadamente a gasolina e produtos de primeira necessidade em pontos de venda selecionados, ligados à PDVSA ou ao governo federal, e criou programas sociais assistencialistas. Semeou, enfim, a tempestade que colherá.
Não consigo enxergar um longo futuro para Chávez no poder. Vença ou não o plebiscito, será brevemente confrontado com queda de popularidade mais aguda do que enfrenta agora. O ideal seria que perdesse, a transição poderia ser mais ordeira. Um pato manco, para citar os inventores do presidencialismo, sem direito a reeleição é melhor do que um com. O destino, porém, não parece estar sendo bom com a Venezuela neste século, é provável que o sim vença.
Um Bolívar antes e um depois da emancipação parecem ser a receita ideal para o desastre.
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