Apenas alguns pensamentos sobre as coisas que acho que sei ou sobre as quais não tenho a mínima idéia
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
De grão em grão
A reportagem acima fala de um setor que está enfrentando a crise de modo bastante razoável, mas também de algo que deve ser visto como um norte para o nosso país.
Muito se tem falado de um suposto modelo asiático de desenvolvimento, significando chinês. Nos anos 50, falava-se do modelo soviético. Nos 70, no japonês. Nos 90, no dos tigres asiáticos. Ninguém falava, mas houve, nesse meio tempo, o milagre brasileiro. Todos eles baseados em imenso aumento do capital industrial e, conseqüentemente, da produção per capita, a chamada produtividade.
O problema é que, como tudo o que envolve o PIB, a noção de produtividade é muito enganosa. Muitas vezes, para não dizer na totalidade, o emprego mais "produtivo" não é o melhor para o país ou para o trabalhador. Utilizando dados do Statistical Abstract of United States, Paul Krugman, no início da década passada, demonstrou que as atividades que agregam mais valor por trabalhador são, em geral, as extrativistas, seguidas das de indústria de base. São, compreensivelmente, as com pouca mão-de-obra e muito capital físico empregado e, portanto, as de mais fácil controle pelos governos.
Todo o governo autoritário que pretende se impor economicamente, e aqueles que se inspiram neles também, como o nosso, inicia um programa de implantação deste setores econômicos. Recursos que poderia ser melhor utilizados pelo espraiamento dos investimentos são imobilizados por critérios mais políticos do que econômicos, em verdade, pela facilidade de controle.
Melhor faz quem agrega valor por produto, empregando mais mão-de-obra, desde que mantenha a possibilidade de venda -resumindo, que o artigo não seja muito caro-, do que quem faz por trabalhador. A segunda alternativa é a explicação para a concentração de renda que ocorre nas economias de rápido crescimento. No Brasil, pode-se ver esta realidade comparando as economias das regiões mais "produtivas", as regiões metropolitanas, com as mais justas socialmente. Ver-se-á uma correlação inversa quase perfeita.
Países como o Brasil, que já escaparam da "Lei da Gravidade" da pobreza, deveriam fazer o possível para que cada centavo investido gerasse empregos de qualidade e fosse empregado pela iniciativa privada, ficando o governo a cargo daquilo que é sua obrigação e anda fazendo mal e porcamente, como saúde, segurança e educação.
Nenhum país asiático é meta para o Brasil, simplesmente porque são por demais diferentes, culturalmente, de nós. Se for usar algum, contudo, olhe para as democracias, raras por lá, do Japão e Índia. Elas já perceberam que a melhor forma de desenvolver-se é investindo nas pessoas. O primeiro vende para o exterior inovação tecnológica; a segunda, sistemas computacionais e serviços de atendimento. Não é errado vender minério de ferro e soja, mas sustentar centenas de milhões com qualidade de vida desta forma é impossível, então é melhor procurar outras coisas para fazer. A despeito do que os governos possam achar, mais vale encher o papo aos poucos, do que a indigestão do empanturramento rápido.
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