quarta-feira, 1 de abril de 2009

Às massas, com amor

Lendo o artigo de Luiz Gonzaga Beluzzo, no jornal Valor Econômico de ontem (assinantes podem ler a íntegra aqui), fiquei intrigado com o trecho final, reproduzido abaixo:
"Há quem afirme, como Hanna Arendt, que a degeneração da sociedade dos indivíduos na sociedade de massas produziu a degradação das formas de compreensão do mundo mais abrangentes, próprias da primeira modernidade. As simplificações agressivamente binárias e retrógradas são típicas do pensamento midiático e "internético" contemporâneos, uma forma de dominação eficaz que espezinha o projeto de autonomia do cidadão."

Não posso, sem arriscar-me ao ridículo, dizer que Hanna Arendt não tinha a mínima idéia do que estava falando (de fato, pior do que o ridículo seria o desprezo de todas as fãs da filósofa, que está na moda), mas ouso dizer que comparar os momentos vividos por ela e o período atual são, aos meus olhos, desonestidade intelectual.
Já de princípio, informo que não sei se Arendt realmente afirmava isso, li muito pouco do que escreveu, "As Origens do Totalismo" é um dos muitos livros que me assombram na sessão de não lidos de minha estante, mas qualquer sociedade à qual estivesse se referenciando em seus textos não existe mais no Ocidente.
É fácil compreender o porquê de os filósofos alemães da primeira metade do século XX verem com desconfiança os meios de comunicação de massa. Eles presenciaram a ascensão do Nazismo, que usou a mídia como ninguém, e os males por ele causado. Assim passaram a exaltar, nas obras, os manifestações culturais mais individualizadas e a execrar as planejadas para públicos amplos.
O julgamento, porém, sempre foi maculado pelo sentimento de superioridade de uma sociedade que alcançava um percentual mínimo da população. Como se o vivido pela classe afluente dos centros comerciais de Berlim e Londres pudesse ser extrapolados a todas as camadas da população. Um elitismo, puro e simples, ou com pitadas de saudosismo. "Cowboy" ou "On the rocks".
Pessoas, que como nós, do final do século XX, já não são submetidas aos mesmos esquemas mentais que permitiram os fascismo à Européia. Mesmo as ações midiáticas dos proto-ditadores latino-americanos, com seus "cafés com o presidente" e discursos quilométricos estão anacrônicos. A nova lei limitadora das centrais de telemarketing é a prova viva disso. Foi necessário limitá-las porque se busca, hoje, atingir ao indivíduo, não às massas.
Para o homem pós-comunicação de massas, há a naturalização da cultura massiva. Temos os anticorpos intelectuais contra grande parte da manipulação. O ex-ministro menestrel, escreveu certa vez que:
Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande
Hoje mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena
Parabolicamará
.
Para nós o mundo sempre foi grande, com os benefícios e problemas que isso traz.
Para os que cresceram antes desse mundo, e Beluzzo parece ser um deles, talvez seja difícil compreender a forma como isso se dá. Mas eu lhes garanto, ciente que de nada vale minha garantia, que as simplificações binárias são muito anteriores às mídias eletrônicas e serão bem posteriores a elas. Basta ver que a história é uma sucessão de nós x eles, bem x mal, Deus x Diabo, etc.
Crer que nossa sociedade está degenerada é elitismo. "On the rocks"

2 comentários:

Xinxa disse...

Confesso que ao ler o parágrafo do texto do Luiz G. Beluzzo, lembrei dos adultos do desenho do Snoopy.
Parecia que eles estava lendo pra mim: booo, buuubobobó, bibubo...

Gian disse...

Bem, no meu ponto de vista, não perdeu nada. Só coloquei aí para dizer que que discordo.