Comento aqui o texto de Geraldo Martins, sobre o problema das desigualdades na educação universitária. Creio que, apesar de haver certa importância no problema, o melhor seria que ele não fosse abordado antes de que ocorresse um reforma no ensino básico, pois está, como a Lua ao Sol em um eclipse, tirando o foco do mais importante para o acessório.
Concentrar-se em se a universidade brasileira é inclusiva, ou não, se prepara para o século XXI, ou não, e em tudo mais que pode ser melhorado nela é improdutivo. É como reformar a cobertura enquanto o térreo está sofrendo um incêndio. Por melhor que seja o resultado no topo, ele ruirá junto com a base, caso os problemas desta não sejam sanados.
Há, no Brasil, o mito de que a educação superior deva ser universalizada. Ele advém, acredito, da balela de que os governos militares coibiram o surgimento de ensino de qualidade para os pobres; carência que seria zerada agora, com estes mesmo pobres adentrando ao mundo acadêmico, de um jeito ou de outro. Mito duplamente falso, por sua premissa e pelo resultado que alcançaria.
Universalização do ensino superior é um fetiche, e viceja onde o populismo abunda. Na Argentina, por exemplo, o acesso ao sistema público é irrestrito desde a década de 50 do século passado, não coincidentemente a época de Perón, e o país só viu regredir sua posição relativa aos demais países.
E, ao contrário do que se veicula por aí, não é o nível de educação formal de um povo que garante o desenvolvimento, como Cuba e os demais países previamente comunistas provam, mas o grau de importância social que se dá a educação em um país. Aqueles que dão grande status à excelência acadêmica prosperam, os que acham que a elite intelectualizada é um mal a ser suportado, no caso benigno, ou extirpado, no mais virulento, não. O Brasil, onde todos querem ser bacharéis, não valoriza a educação, mas o diploma.
O gargalo educacional brasileiro está no ensino básico, que não da condições ao aprimoramento pessoal. As deficiências criadas ali são transmitidas em cadeia para os níveis mais altos. Todos com os amigos professores com os quais já conversei sobre isso atestam o grau de indigência intelectual com o qual o aluno médio chega às salas de aula.
Fornecer ensino superior para quem não sabe ler direito é queimar dinheiro. Dinheiro que deveria ser gasto com impedir que novos cidadãos cheguem ao final do ciclo básico analfabetos funcionais.
Qualquer outra estratégia é enxugar gelo, o que, nestes tempos de aquecimento global, convenhamos, é uma tarefa inglória.
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