terça-feira, 7 de abril de 2009

Custos, é necessário que os calculemos corretamente


Fareed Zakaria, em seu último artigo na Newsweek, Free At Last - How to achieve genuine energy independence, faz o seguinte julgamento:

"Previous technological revolutions have been liberating. Think of the IT revolution. It created the freedom to use massive amounts of computing power in every aspect of life—from a microwave oven to an iPod. The problem with the energy revolution as it stands now is that we are essentially offering the same product—electricity, a hybrid car, a fancy new light bulb—at a higher cost. Sure, you can feel good about it. But technology revolutions are about raising efficiency, not expanding virtue. An energy revolution would produce a world in which we can all use lots of energy without worrying about its costs or consequences."

Eu discordo da essência do que ele diz. Não há um problema na revolução energética na forma como ela apresenta-se hoje. Há uma falha na perspectiva histórica do observador.
Não faz muito tempo, dizia-se dos computadores que serviam apenas para ganhar o tempo gasto para fazê-lo funcionar, ou seja, não apresentava ganho de eficiência. Agora ele está presente em quase todas as atividades, como o autor norte-americano coloca. Não criou nenhum novo artigo, porém, como dá a entender Zakaria.
O que as "revoluções" tecnológicas costumam fazer é substituir com vantagens formas de fazer. A revolução da tecnologia da informação não criou liberdade para o uso de poder computacional, nem a industrial inovou com produtos de consumo. Elas simplesmente liberaram mão-de-obra, as secretárias e demais manipuladores de formulários na primeira e os artesãos na segunda, que pode ser aproveitada em outras áreas da economia.
O fato é que as chamadas tecnologias verdes são, em sua maioria, economicamente viáveis mesmo na atualidade. É claro que não há como colocar todas em um só barco. Muitas estão em estágio avançado de desenvolvimento e outras em embrionário. Algumas precisam de muita mão-de-obra especializada, outras podem aproveitar a já existente. A especificidade é a palavra chave aqui, e aproveitar as características dos projetos onde possam vir a ser implantados dirá o quão compensadora, ou não, é a sua adoção.
Particularmente, vejo como maior entrave a curva de aprendizagem dos projetistas. Os engenheiros e arquitetos atualmente no mercado foram formados dentro do paradigma em que a energia era barata e assim permaneceria indefinidamente. Contam, além disso, com fontes constantes e confiáveis, sem as alterações que caracterizam algumas das alternativas.
A conjuntura também não é auspiciosa. A mentalidade imediatista, com raríssimas exceções, é a dominante nas finanças mundiais. Os projetos de menor custo inicial de implantação são os preferidos pela maioria dos desenvolvedores; as tecnologias mais consolidadas muitas vezes já tiveram muitos de seus custos de implantação amortizados pela replicação automática do mesmo design em diversos sítios, barateando essa fase.
Os "projetos verdes", entretanto, precisam ser feitos de acordo com as condições exatas do ambiente no qual será aplicado, tornando-os de implantação mais custosa, mas têm, como regra geral, menor custo de manutenção. Não é apenas a "superioridade moral" que impele empresas e consumidores a adotá-los; há lucros também. Maior gasto inicial e menor dispêndio no longo prazo soam bem à caixa-registradora, mas depende de maior disponibilidade de crédito para decolar. Em época de dinheiro barato e farto, há possibilidade de se optar por essa via. Não parece ser o caso.
A eficiência energética acabará por impor-se. Só não sei se mais cedo ou mais tarde.

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