No texto de hoje, retomando assunto da postagem de ontem, quero tocar em um caso em que estamos, literalmente, queimando oportunidades preciosas de desenvolvimento econômico e social.
Desenvolver não é só isso, mas passa necessariamente pela utilização eficiente de todos os recursos que nos são apresentados. O Brasil diminuiu muito sua dependência de combustíveis fósseis baseando sua matriz anergética na hidreletricidade, conforme este texto, completamente antiprivatista, demonstra. Também houve esforço para substituir os combustíveis líquidos, através dos programas irmãos Pró-álcool e Pré-biodiesel, dos quais só o primeiro vingou.
Há, entretanto, potencialidades inexploradas no uso da agroenergia da cana que causam até embaraço às exportações do país. A queimada da palha, com a planta em pé, para facilitar o trabalho dos cortadores, é uma delas. Muitos países apontam a prática como nociva ao meio, com toda a razão, e a esgrimem como motivação de políticas protecionistas.
A colheita, no entanto, não precisa ser feita desta forma ancestral. Colheitadeiras mecânicas são capazes de executar o serviço de modo bastante eficiente, sem transformar em fumaça um insumo precioso. Atentemo-nos para o parágrafo a seguir, extraído de uma reportagem de Mônica Scaramuzzo, para o Valor Econômico de 26 de março:
"O Brasil possui cerca de 400 usinas de açúcar e álcool em operação, quase 100% delas autossuficientes em energia a partir do bagaço. Há cerca de 200 projetos de cogeração em implantação no país, que somados podem colocar no sistema 10,2 mil MW até 2013, segundo o consultor de energia a partir da biomassa Onório Kitayama, que atua hoje na Coomex. Se for utilizada a queima da palha da cana o potencial sobe para 19,284 mil MW. No entanto, ainda há poucos projetos que queimam a palha.".
Comparemos agora com a capacidade de geração de Itaipu Binacional, conforme o site da empresa: "Com 20 unidades geradoras e 14.000 MW de potência instalada, fornece 19,3% da energia consumida no Brasil e abastece 87,3% do consumo paraguaio."
Estamos, portanto, transformando em fumaça fuliginosa algo que poderia abastecer mais de 10% das necessidades elétricas do país, e sendo punidos, comercialmente, por isso. Também pagamos o preço do aumento de incidência de doenças asmáticas nas cidades próximas às áreas produtoras, sem contar na deterioração da saúde dos trabalhadores rurais hoje responsáveis pelo corte.
Queremos perfurar o pré-sal enquanto temos à mão essa riqueza queimando na terra. Não me parece inteligente.
E para vocês?
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