quinta-feira, 19 de março de 2009

A César o que é de César

É um tanto disparatada a intenção de retirar-se do governo a responsabilidade pelo declínio da atividade econômica percebida nitidamente no terceiro trimestre do ano passado, e que permanece neste.
O que ocorreu foi decorrência de uma crise de confiança, congeladora do sistema de créditos e, conseqüentemente, do comércio movido por ele, e deveria ter sido tratado como tal. Mas observamos como resposta total inatividade estatal, mais preocupado estava o governo em proteger-se por meio da retórica. Tentou esconder a realidade com lentes róseas, na estratégia “marolinha” e, depois, no “toma que o filho é seu, Bush”, e passou a apontar o culpado de sempre, o autônomo-de-fato Banco Central.
Já cansei de defender aqui uma política de juros distinta da adotada pelo Banco Central. Na minha visão, a taxa Selic faz muito pouco pela manutenção das intenções de compras do consumidor. Primeiro, devido ao fato deste não fazer seus cálculos com base nas taxas anuais de remuneração do dinheiro que toma emprestado, mas da mensalidade que terá que arcar, e, depois, porque este não tem acesso a ela como poupador pela simples verdade de o brasileiro médio não poupar, pois sua renda não é compatível com este luxo.
A Selic, neste cenário, torna-se apenas um ônus fiscal do governo, masoquisticamente auto-imposto. Premissa falsa, o controle da inflação de demanda, gerando aumento de preços estrutural pelo mecanismo de retirada de produção potencial, a que poderia ser efetivada pelos investimentos caso o governo não sugasse os recursos via títulos,e de aumento dos impostos, usados no pagamento dos juros improdutivos. Cria-se, assim, um círculo vicioso retro-alimentado. Dito isso, cabe afirmar, O BC nada tem a ver com a retração econômica atual, apenas impediu um aceleração maior no passado.
Se o crédito externo foi a mola pela qual a crise chegou ao país, deveria ter passado por ela, também, qualquer tentativa de evitar o contágio. Se os exportadores estavam expostos a ameaça de secagem de suas linhas, caberia ao provedor de dólares nacional, aquele que sentava em reservas de 200 bilhões, fornecer o material escasso, as verdinhas. A simples atitude de permitir a queda das reservas faria que as apostas contra o Real ficassem mais arriscadas, impedindo que as empresas envolvidas no, assim chamado pelos economistas, overshooting cambial vissem seus lucros de anos evaporarem.
De símbolo de solidez da nação, as reservas internacionais do Tesouro transfiguraram-se de um oásis para uma miragem, algo que o governo mostrava às empresas, mas estas não podiam utilizar. Servindo, portanto, para nada, pois não impediram a queda do dólar quando a onda chegou, nem seu aumento, quando ela refluiu.
Houve, portanto, culpa objetiva do Estado na situação em que estamos. Caberá ao futuro saber o quão caro sairá a barbeiragem, mas não há dúvida que esta ocorreu.

2 comentários:

Mauricio Guimaraes disse...

Na minha opinião a vida é um acaso. Ninguém em sã consciência poderia dizer que ela surgiria.

Quem sabe o governo não está aginda assim hoje. O "acaso" impera e, de repente, o governo sai vencedor.

Barbeiragem? Quiça. Destino? A gente merece.

Mauricio Guimaraes disse...

para com isso de aprovação para comentários... Isso não é social media...