sexta-feira, 27 de março de 2009

Retorno às fibras naturais

Houve um tempo em que o beneficiamento das fibras naturais representavam a quase totalidade das manufaturas do mundo. A sofisticação da indústria mudou esse quadro, na atualidade há um sem número de artigos sendo fabricados no mundo, com a manipulação de matérias primas de várias fontes, como a mineração e a química fina. O quadro, entretanto, foi um tanto distorcido pela pela fé da Humanidade, ou boa parte dela, na superioridade dos materiais produzidos pelo Homem sobre os fornecidos pela natureza.
Como costuma acontecer com as tendências, estamos vendo agora a reversão. O natural está sendo cada vez mais valorizado e as qualidades provenientes das plantas estão sendo redescobertas. Certas empresas, como a Pematec, já estão surfando está nova onda, e mais virão. Como país, o Brasil só tem a ganhar com isso.
Com seu imenso potencial agrícola, cada inovação no campo do uso de material proveniente das plantas gera um potencial aumento significativo da renda nacional. Já tratei deste tema, citando soluções que estavam sendo adotadas à época. Muitos mais exemplos podem ser mostrados.
Popularizada no setor automotivo, como substituto à fibra de vidro, o curauá, hoje, é uma alternativa consolidada como insumo industrial, tornando a fibra excassa.
Mesmo trajeto tomou a utilização da fibra de coco. Há pesquisas (para conhecer algumas, clique aqui e aqui) para várias aplicações do material, hoje um transtorno para os sistemas de saneamento das grandes cidades, embora seu primeiro sucesso de uso industrial em larga escala tenha sido como integrante de bancos automotivos.
Outros países também estão investindo neste filão, contando até com expertise nacional. O pesquisador brasileiro Leonardo Simon é um dos que vem atuando no exterior. Ele, segundo André Borges, no Valor Econômico de 24/03/2009, coordena, desde o ano passado, uma equipe de 19 pesquisadores dentro do projeto BioCar, do centro de pesquisas canadense CTT.
A linha de pesquisa promissora utiliza a palha do trigo para substituir partes de plástico usadas nos carros, de maneira semelhante ao feito no Brasil com o curauá e o coco. Borges escreve que a " proposta é usar uma parte da planta que, durante a colheita do trigo, é desprezada pelos agricultores. "Essa palha normalmente fica na própria lavoura, é um resíduo da agricultura", diz Simon. "Na China, o hábito das pessoas é queimar a palha do trigo."
A ideia é que, após ser moída e transformada em uma espécie de farinha, a palha do trigo seja misturada ao polipropileno. Com a fibra da planta, é possível reduzir o uso de outras substâncias usadas na composição do plástico, como o talco e o carbonato de cálcio, que são mais pesados. Além de resultar em peças mais leves, diz Simon, a palha de trigo pode reduzir o preço dos componentes e oferecer peças mais resistentes que as tradicionais.
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A palha poderia significar até 40% do peso das peças plásticas do veículo, que é de 200 quilos, normalmente. Muitas empresas, entre elas a Ford, financiam o projeto, junto com a província de Ontário. Acredita-se que em 3 anos a inovação chegará ao mercado.
Como vemos, é possível extrair mais valor da atividade agrícola através de sua sinergia com os demais setores econômicos. O que não podemos é ficarmos deitados em berço esplêndido, esperando que as commodities valorizem em Chicago. Valorizemo-as nós, em Paranavaí, em Apucarana, em Belém e em Bonito, para usufruirmos de um bom padrão de vida.

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